É interessante notar, que no meio do caos, quando a guerra contra os romanos passara de possibilidade para realidade, coube naturalmente aos religiosos, liderados pelo sumo sacerdote, a responsabilidade de organizar o povo na resistência, e neste sentido, são os fariseus que tomam a dianteira deste negócio.
A expulsão de Céstio de Jerusalém deu ocasião à formação de vários grupos de resistência aos romanos, mas sem uma liderança centralizada, propiciou, desta maneira, a formação de grupos de interesses diversos, o que, no final, não viria a ser a causa da derrota dos judeus, porque seria difícil a qualquer nação da Terra derrotar o maior exército do mundo, mas foi sim, a razão principal de tanto sofrimento e destruição que veio sobre aquele povo.
Em Jerusalém coube a princípio a chefia da cidade ao sumo sacerdote Anano, mas à medida que a desobediência civil se instalava em todos os cantos do país, mais e mais gente se refugiava na cidade, e desta forma, diversos grupos se formaram dentro da comunidade, a maioria deles formados por ladrões e párias da sociedade, cada um querendo tirar partido financeiro do caos reinante, constituindo-se assim, opositores uns dos outros.
No intento de organizar o país para formar uma resistência efetiva, foram enviados às províncias governadores, visando principalmente as cidades grandes, tais como Jericó, Tamma, Jope, Emaús entre outras. A Flávio Josefo, sacerdote em Jerusalém, coube governar a alta e baixa Galiléia.
De maneira geral, estes governadores substituíam o poder local, e criavam sua própria forma de gerir suas províncias: trataram de fortificar suas cidades, e recrutar homens, a maioria jovens, aos quais eram entregues as armas disponíveis, geralmente velhas e de baixa qualidade.
Josefo, na qualidade de governador da alta e baixa Galiléia, conta que nomeou entre os recrutados chefes e oficiais, aos quais ensinou os rudimentos da guerra, como por exemplo, as várias maneiras de toques de alarme, ataque e retirada. Seu primeiro cuidado foi conquistar o afeto do povo, e assim, dividiu com eles a sua autoridade, escolhendo administradores das províncias e juízes para julgar as pequenas causas. Mandou também cercar de muralhas as praças da baixa Galiléia, e recrutou quase cem mil homens , entre os quais nomeou comandantes, oficiais e chefes. Contratou também estrangeiros, e à exceção destes, os demais eram mantidas pelas cidades que os sustentavam de boa vontade.
Pelo lado romano, Vespasiano foi escolhido a dedo por Nero: “Sua vida, desde a juventude até à velhice, tinha-se passado na guerra. O império devia ao seu valor a paz de que gozava no Ocidente, que se vira abalado pela revolta dos alemães, e seus trabalhos tinham dado ao imperador Cláudio, pai de Nero, sem esforço al¬gum, sem ter derramado uma gota sequer de sangue, a glória de triunfar contra a Inglaterra, que não se podia dizer, até então, ter sido verdadeiramente domina¬da. Dessa forma, Nero, considerando a idade, a experiência e a coragem deste grande general e que ele tinha filhos que eram como reféns de sua fidelidade, os quais no vigor da juventude podiam servir como de braços à prudência de seu pai, além de que talvez, Deus assim o permitia para o bem do império, resolveu dar-lhe o comando dos exércitos da Síria”. (Guerra dos Judeus Contra os Romanos, Capítulo 3, § 234)
Conta Josefo que “Vespasiano atacou primeiro Gadara: tomou-a sem dificuldade, ao primeiro assalto, porque lá havia muito pouca gente capaz de defendê-la. Os romanos mataram todos os que estavam em idade de pegar em armas, de tal modo a lembrança da derrota sofrida por Céstio os acirrava contra os judeus. Vespasiano não se contentou de mandar incendiar a cidade, mas mandou queimar também as aldeias e as vilas dos arredores, cujos habitantes foram escravizados em grande parte”. (Ibid § 246)
Os romanos, além da vantagem de serem disciplinados e treinados para a guerra, possuíam também armas eficientes, entre as quais, a famosa Gladius (de onde deriva a palavra gladiador), uma espada de cerca de meio metro (ou mais), que além de uma ponta fina e penetrante possuía dois gumes, ou seja, corte dos dois lados. Em termos de máquinas de guerra, possuíam as mais modernas para a época, como as plataformas que atingiam a altura dos muros das cidades, catapultas, e o ariete, que o próprio Josefo descreve quando relata o ataque romano à cidade de Jotape, onde ele próprio se encontrava na ocasião: “Tão longo assédio e as incursões contínuas dos sitiados faziam com que Vespasiano se considerasse, ele mesmo, como sitiado; suas plataformas haviam sido concluídas até à altura das muralhas e ele (Vespasiano) resolveu servir-se do aríete. Essa terrível arma é feita como um poste, semelhante a um mastro de navio de altura e grossura enormes, cuja ponta superior é armada com uma cabeça de ferro proporcional ao restante e semelhante à de um carneiro, o que lhe valeu o nome, porque bate nas muralhas como o carneiro ataca também com a cabeça os seus adversários. Esse mastro é suspenso e balançado por meio de grossos cabos, como o braço de uma balança, sobre um outro grande poste apoiado sobre a terra e sustentado de ambos os lados por escoras muito fortes e bem ligadas. Assim o aríete, balançando-se no ar, levantado e abaixado com violência por um grande número de homens, bate com a cabeça, fortemente, sobre um muro que se quer derrubar, e toda resistência possível cede-lhe à violência dos golpes repetidos”. (Ibid § 254)
Em Jotape Vespasiano foi ferido por uma flecha na planta do pé, o que causou, segundo Josefo, grande comoção entre seus comandados, e particularmente em Tito, seu filho, que por causa disto lutavam com muito maior ardor como que para vingar a afronta sofrida por seu general. A cidade resistiu por apenas 47 dias, e ao fim deste tempo, foi totalmente destruída, havendo os romanos matado sem piedade todos os homens, independente de suas idades, poupando apenas as mulheres e crianças. Quarenta mil judeus perderam a vida nesta empreitada, muitos dos quais se suicidaram. Conforme Josefo, “a tomada dessa praça cuja extrema resistência tornou-se tão célebre, deu-se a primeiro de julho do décimo terceiro ano do reinado de Nero”.
Josefo conta que escapou da cidade na ocasião, vindo a refugiar-se numa caverna juntamente com outros 40 fugitivos, mas passados dois dias, foi denunciado por uma mulher. Vespasiano, sabendo do paradeiro de Josefo mandou-lhe um tribuno, de nome Nicanor, conhecido deste, que tentou convencê-lo a se entregar. A solução para este dilema não se encontrava nas mãos de Josefo unicamente, uma vez que seus companheiros estavam dispostos ao suicídio para não cair nas mãos dos romanos, e assim, lançando sorte, entregaram-se à morte um a um até que restaram apenas Josefo e um companheiro, e assim, “Josefo, vendo que se lançasse a sorte, ela, ou lhe custaria a vida ou ele teria que manchar suas mãos no sangue de um amigo, aconselhou-o a viver, dando-lhe garantia de salvá-lo. Assim, Josefo conseguiu escapar daquele tremendo perigo que correra, quer do lado dos romanos, quer dos de sua própria nação, e entregou-se a Nicanor”. (Ibid, 270-271)
Josefo sobreviveu, desta forma, à destruição da cidade, vindo mais tarde a tornar-se amigo de Tito e Vespasiano, conforme veremos adiante.
Jope foi o alvo seguinte de Vespasiano, uma vez que esta cidade se tornara um ponto de troca de bens que eram saqueados nos mares por judeus que percorriam as costas da Fenícia, da Síria e mesmo do Egito. Tomaram a cidade sem luta, fortificaram sua parte mais alta e deixaram ali uma guarnição de soldados de infantaria e muita cavalaria, para fazerem incursões às regiões vizinhas e incendiarem as aldeias e as vilas.
Josefo reporta batalhas extraordinárias em Jafa, Tiraqueia, Gamala, Giscala, entre muitas outras cidades que caíram nas mãos dos romanos. Foram todas destruídas e incendiadas, e quanto aos moradores, tanto os moços como os velhos, foram assassinados em suas casas e nas ruas, sem que nenhum daqueles capazes de pegar em armas fosse poupado, exceto as crianças, que foram levadas escravas com as mulheres.
Como consequência de tamanho caos, aconteceu o que acontece também em nossos dias, quando advém um tumulto social qualquer: proliferaram os fora da lei, e assim, o crime atingiu por toda Judeia patamares inimagináveis.
Foi desta forma que veio sobre Jerusalém o maior dos castigos. Josefo assim nos reporta: “Em tal miséria, as guarnições das cidades, pensando somente em viver, segundo sua vontade, sem se incomodar com a pátria, não cuidavam em defender os oprimidos; os chefes dos ladrões depois de se terem unido e organizado, dirigiram-se para Jerusalém. Não encontraram obstáculo, quer porque ninguém tinha autoridade, quer porque a entrada estava sempre aberta para todos os judeus segundo o costume dos nossos antepassados, e naquele tempo, mais que nunca, porque se pensava que para lá se ia, levado apenas pelo afeto e pelo desejo de servir à cidade, naquela guerra. Daí nasceu um grande mal, que, mesmo que não tivesse havido divisão, naquela grande cidade, teria sozinho causado sua ruína, porque uma parte dos víveres que seria suficiente para alimentar os que eram capazes de a defender foi consumida inutilmente por aquela grande multidão de homens inúteis, mas também foi causa de revoltas que vieram depois da carestia. Outros ladrões deixaram os campos para lançar-se sobre Jerusalém, unindo-se aos primeiros, que eram ainda piores do que eles. Não se contentavam de roubar e de assaltar; sua crueldade chegava ao assassínio; sua ousadia era tal que o cometiam à luz do dia, sem poupar nem mesmo às pessoas de condição. Começaram por prender Antipas, que era de família real e ao qual estava confiada a guarda do tesouro público, como o primeiro de todos, em dignidade. Trataram do mesmo modo Levias e Sophas, filho de Raguel, que também eram de família real e outras pessoas muito importantes. Essa horrível insolência, lançou tal terror no espírito do povo, que como se a cidade já tivesse sido tomada, todos só pensavam em fugir”. (Ibid 300-301)
O Templo, bem como a Fortaleza de Antônia, o Palácio do rei Agripa, e as demais fortificações da cidade foram ocupadas por bandidos. O Templo, desta forma, chegou ao ponto de ser, na prática, um quartel de malfeitores. Sobre estes Josefo comenta que “sua horrível impiedade levou-os a ofender a Deus, entrando com os pés manchados e armas criminosas no Santuário. Os zelotes (pois esses ímpios davam-se a si mesmos tal nome) para se salvar dos efeitos da ira do povo, fugiram para o Templo e lá fizeram sua fortaleza, estabelecendo nele a sede de seu governo tirânico. Dentre tantos males que causavam, nada era tão intolerável quanto seu desprezo pelas coisas mais santas. Para experimentar até onde poderiam chegar suas forças e o temor do povo, tentaram servir-se da sorte para escolher o sumo sacerdote, afirmando que assim se fazia antigamente, quando tal dignidade era hereditária; aboliam a lei para estabelecer sua injusta autoridade. Mas eles ficaram confundidos em sua malícia, pois tendo feito lançar a sorte sobre uma das famílias da tribo, consagrada a Deus, caiu a mesma sobre Fanias, filho de Samuel, da aldeia de Hafrasi, que não somente era indigno de tal cargo, mas ainda tão rústico e tão ignorante, que nem sabia o que era o sacerdócio. Contra sua vontade tiraram-no de suas ocupações do campo e o revestiram dos hábitos sacerdotais, que lhe assentavam muito mal, quase como se estivessem vestindo um ator de teatro; ensinaram-lhe depois o que devia fazer; tão grande impiedade passava em seu espírito apenas por um gracejo. Os verdadeiros sacerdotes, olhando de longe essa comédia e de que modo se calcava aos pés a honra devida às coisas santas, não puderam reter as lágrimas, nem o povo suportou por mais tempo tão horrível insolência; todos sentiram-se inflamados pelo mesmo ardor, para se libertarem de tal tirania. (Ibid 301-303)
Por causa da afronta contra o Templo, Anano, o sumo sacerdote, levantou o povo contra os zelotes que o ocupavam, havendo assim, muitos mortos de ambos lados. Mas, diante da impossibilidade de derrotar os zelotes, teve o sumo sacerdote Anano o ensejo de pedir a Vespasiano que viesse retomar o Templo, e conseguiu assim convencer o povo de que este seria o único caminho viável.
Tendo sido avisados da intenção de Anano, os zelotes, por sua vez, pediram o auxílio dos idumeus, justificando que “Anano, depois de ter enganado o povo, queria entregar a cidade aos romanos, e que eles (os zelotes), se tinham retirado ao Templo para não abandonar a defesa da liberdade pública, mas que estavam cercados e prestes a ser atacados, se não se impedisse, com um auxílio imediato, que eles caíssem nas mãos dos inimigos e a cidade, nas dos romanos. ” (Ibid 311)
É preciso entender que toda aquela região, onde se inclui a Judeia, Samaria, e também a Idumeia, tinham como capital a cidade de Jerusalém, e desta forma, tal aliança entre os zelotes e idumeus é bastante provável. E assim, vieram os idumeus em auxílio dos zelotes, e invadiram a cidade, e atacaram a guarda dos sacerdotes que mantinha encurralados no Templo os zelotes, de maneira que no raiar do dia seguinte, depois de intensa batalha, conforme Josefo, havia oito mil e quinhentos mortos estendidos ao redor do Templo. A união de zelotes e idumeus permitiu que estas forças controlassem grande parte da cidade e no confronto desta guerra civil milhares morreram, entre os quais Anano, bem como muitos outros sacerdotes.
Não tardou, no entanto, para que os idumeus percebessem os abusos dos zelotes e entendessem que haviam sido usados numa causa injusta, e desta forma, romperam a aliança e retornaram a suas cidades, deixando, porém, os zelotes na condição de força dominante no confronto.
Vespasiano, que estava a par dos acontecimentos em Jerusalém foi aconselhado a tomar proveito da situação da cidade, dividida entre dois grupos que se atacavam mutuamente, mas justamente por esta causa, contra o conselho de seus oficiais, resolveu deixar que estas forças se aniquilassem mutuamente, pois assim, a conquista seria menos penosa.
Não se pode deixar de enxergar em todos estes acontecimentos a mão de Deus agindo contra aquele povo: Vespasiano, conforme as palavras de Josefo, considerou “que se nos apressarmos em atacá-los, nós os obrigaremos a se reunirem para voltar contra nós todas as forças, que são ainda muito fortes; ao passo que se nós o diferirmos, elas continuarão a se enfraquecer por meio dessa guerra doméstica, que já começou a diminuí-las. Não vedes que Deus, que luta por nós, quer que lhe sejamos devedores dessa vitória sem que nos faça correr perigo algum? Quando uma guerra civil que é o maior de todos os males leva os inimigos até esse excesso de furor, a se degolarem reciprocamente, que temos nós a fazer senão continuar como espectadores de tão sangrenta tragédia e por que nos expormos ao perigo para combatermos pessoas que já se destroem a si mesmas? (Ibid 325)
O retrato da cidade naqueles dias prova que Vespasiano estava correto: havia cadáveres espalhados por todas as ruas de Jerusalém, e quem quer que tentasse enterrar seus mortos era exterminado sem qualquer traço de piedade.
Josefo vê, ao retratar este instante da história de Jerusalém, o cumprimento de uma profecia. Vejamos suas palavras: “Aqueles homens animados pelos demônios não se contentavam de calcar aos pés tudo o que é mais digno de respeito; eles zombavam do mesmo Deus e tomavam como loucura e ilusão as predições dos profetas. Mas as consequências os fizeram ver que eram bastante verdadeiras. Aqueles celerados foram os executores da predição feita há muito tempo, de que, depois de uma grande divisão, Jerusalém seria tomada e depois que os que mais deviam respeitar o Templo de Deus, o tivessem profanado com sua impiedade, ele seria queimado e reduzido a cinzas, por aqueles aos quais as leis da guerra permitiam usar como lhes aprouvesse de sua vitória.” (Ibid 326)
É interessante considerar que a profecia que estava se cumprindo na ocasião era a de Jesus, conforme Lucas 19:41-44: “E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lados; E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.”
Embora o texto de Josefo seja bastante genérico quanto a autoria da profecia, uma vez que se refere a “profetas”, e não especificamente a Jesus, é muito provável que seja a ele que se refira, uma vez que, poderia estar mencionando textos do Antigo Testamento relativos à destruição de Jerusalém, como Is 29:3-4 ou Jr 3:3-6, mas estes textos falam explicitamente da destruição da cidade pelas mãos de Nabucodonosor, conforme o próprio Josefo atesta quando relata este acontecimento na História dos Hebreus, Capítulo 11, parágrafo 425 e subsequentes. Neles Josefo relaciona os textos de Isaías e Jeremias com Nabucodonosor. Não é, portanto, cabível que ele aqui se refira neste relato a qualquer destas profecias, mas não tendo como explicitar isto no contexto de seu relato, coloca de maneira genérica aquilo que está no inconsciente coletivo. Sempre é bom lembrar que Josefo reconheceu Jesus como Messias esperado pelos judeus.
Se dentro da cidade as coisas estavam ruins, com dois grupos se digladiando até morte, piorou a situação quando houve a cisão do grupo dos zelotes em dois partidos distintos, e desta forma, três grupos disputavam controlar a cidade. Com o país sendo pouco a pouco retomado pelos romanos, na visão de Vespasiano eram estes três grupos os inimigos de Roma. Mas a eles juntou-se um quarto, para ruína de Israel: os sicários, que tomaram a fortaleza de Massada construída por Herodes, o Grande, onde os reis guardavam seus tesouros, muitas armas e que também serviam para segurança de suas pessoas. Diz Josefo: “Estes sicários, ou assassinos, não eram em número tal que os levasse a cometer seus crimes abertamente, por isso matavam à traição; apoderaram-se dessa fortaleza e vendo que o exército romano estava em descanso, e que os judeus se digladiavam em Jerusalém, imaginaram empreender coisas em que jamais haviam pensado, nem ousado fazer. Assim, na noite da festa de Páscoa, tão solene entre os judeus, porque se celebra em memória da sua libertação da escravidão do Egito, para ir tomar posse da terra que Deus havia prometido aos nossos antepassados, esses assassinos atacaram de improviso a pequena cidade de Engedi antes que os habitantes tivessem tido tempo de tomar as armas, mataram mais de setecentos deles, dos quais a maior parte eram mulheres e crianças, saquearam todas as casas e levaram todos os despojos para Massada. Trataram do mesmo modo todas as aldeias e todas as vilas dos arredores; seu número crescia cada vez mais e não havia um lugar sequer na Judéia que não estivesse naquele tempo exposto a toda sorte de depredação. Como acontece no corpo humano, quando a parte mais nobre é atacada por uma grave enfermidade, todas as outras também se ressentem, assim essa horrível divisão que tinha reduzido a tal extremo a capital, abrindo as portas à licença, havia feito que o mal se espalhasse por toda a parte; nada havia que aqueles celerados não julgassem poder fazer, impunemente. Após terem devastado tudo o que estava perto deles, retiraram-se para o deserto, onde, depois de se terem reunido em grande número para formar, se não um pequeno exército, pelo menos um bando considerável de ladrões, atacaram as cidades e os Templos. Aqueles aos quais faziam tanto mal não os poupavam quando podiam agarrá-los, mas lhes era muito difícil, porque eles fugiam imediatamente, com os despojos conquistados. Assim, podia-se dizer que não havia um lugar sequer na Judéia que não participasse dos males que faziam Jerusalém perecer.” (Ibid 340)